É muito comum ouvirmos a seguinte pergunta:
– “Como foi a bolsa hoje?” – ou então:
– “Como está a bolsa em 2012?”
A resposta, muito provavelmente, fará referência ao Índice Bovespa, ou melhor, ao Ibovespa. Embora existam atualmente mais de 20 diferentes índices confeccionados pela Bovespa, o Ibovespa é a mais antiga e mais importante referência do mercado de ações brasileiro. A maioria dos fundos de ações o utilizam como ‘benchmark’.
Mas como é calculado este índice? Quais critérios são utilizados? Ele realmente reflete o desempenho do mercado acionário?
O Ibovespa foi criado em 1968. As ações que compõem o índice respondem por 80% do volume financeiro e do número de negócios do mercado ‘à vista’ da Bovespa. A cada 4 meses, esta carteira que compõe o índice é reavaliada e os critérios de liquidez recalculados pelos 12 meses imediatamente anteriores. Portanto, repare que quanto mais negociada for determinada ação, maior será seu peso no índice. Nenhum outro critério é levadoem consideração. Lucratividade, valor de mercado, faturamento ou até mesmo critérios subjetivos como governança corporativa são ignorados. Apenas a liquidez das ações é importante.
Ao longo destas quase 5 décadas de existência do índice, inúmeras empresas já o compuseram. Nos anos 70, observou-se o aumento da importância das empresas estatais no índice. Os anos 80 testemunharam o ‘fenômeno Paranapanema’, que chegou a ter isoladamente mais de 30% do Ibovespa. A Petrobrás já possuía um peso acima de 15%, e a Sharp também era considerada uma ‘blue ship’, por incrível que pareça!
Já nos anos 90, o índice passou a ser dominado pelas empresas de telecomunicações. Apenas a Telebrás chegou a responder por mais de 50% do Ibovespa. Mais recentemente, nos anos 2000, foi a vez das empresas de recursos naturais lideradas por Vale e Petrobrás. Atualmente, estas duas, somadas, respondem por aproximadamente 25% do Ibovespa. As empresas do setor financeiro também tem um peso relevante.
Pode-se, portanto, contar uma boa parte da história econômica recente do Brasil observando-se as diferentes composições do Índice Bovespa ao longo dos anos.
Um grande número de empresas já fez parte do índice. Muitas já não existem mais. Outras tantas foram adquiridas ou quebraram. Da primeira carteira a compor o Ibovespa em 1968, apenas Ambev (na época Antarctica), Souza Cruz, Vale, Itaú Unibanco, Lojas Americanas e Duratex ainda o compõem atualmente. Mas são exceções. A evolução do Ibovespa ao longo destes anos conta uma história de liquidez de ações na bolsa. Não necessariamente uma história de rentabilidade.
Atualmente, Junho de 2012, o Ibovespa é composto por 63 ações de 57 empresas. Muito provavelmente muitas destas não mais o comporão daqui a alguns anos e talvez nem mais existam daqui a algumas décadas.
Há 372 empresas listadas na Bovespa. Destas, 340 foram negociadas ao menos uma vez em 2012. Saber escolher as empresas que apresentarão os melhores resultados no futuro, independentemente da liquidez de suas ações, é a estratégia mais apropriada – ou talvez a única – para se ter sucesso na bolsa. Não me parece que o Ibovespa tenha a metodologia adequada para esta tarefa no médio e longo prazos.