Nos últimos textos sobre a declaração do imposto de renda, embarcamos numa jornada para desvendar os seus mistérios, desbravando desde os conceitos básicos até os erros mais comuns que surgem durante esse processo. Hoje, quero te levar ainda mais adiante nessa aventura, focando em dois conceitos essenciais que, quando bem compreendidos, transformam a forma como encaramos essa declaração anual: estoque e fluxo.
Entender essas duas partes da declaração é essencial para você aprender a informar seus bens e rendimentos corretamente.
O que me levou a trazer esses conceitos foi o fato de que, volta e meia, meus clientes me perguntam: por que em alguns casos devo preencher a declaração em mais de um lugar sobre o mesmo assunto, por exemplo, os investimentos? Porque uma parte é o fluxo e a outra o estoque!
Imagine uma banheira sem tampa: a água que entra e que sai é o fluxo, e a água que fica armazenada é o estoque. Se o fluxo de entrada for maior do que o de saída, aumenta o volume de água na banheira, se for o contrário, o volume diminui. Percebe que é o mesmo que ocorre com nossas finanças?
Então, vamos lá, que vou te explicar tudo sobre isso.
O que são estoque e fluxo na declaração de imposto de renda?
Como expliquei acima, a declaração pode ser dividida em duas grandes partes: estoque e fluxo!
Imagine a declaração do imposto de renda como uma descrição financeira de como você caminhou financeiramente no seu ano: onde você estava no início, o que você recebeu, o que gastou, e onde acabou. Seriam duas fotos com um vídeo no meio, para mostrar de onde você saiu, por onde andou e aonde chegou. Entendeu? Vamos avançar…
Os conceitos de estoque e fluxo são fundamentais na sua declaração:
– Estoque refere-se ao seu patrimônio, aos seus bens e direitos até a data de 31 de dezembro de um determinado ano (a água que fica armazenada na banheira). No nosso caso, o do ano anterior ao da declaração (2023). São os imóveis, carros, investimentos, o saldo na conta corrente entre outros. O estoque é a posição final do seu patrimônio em um dado momento: a foto.
– Fluxo, por outro lado, é o movimento, tudo que entrou e saiu durante o ano (a água que entra da torneira e que sai pelo ralo da banheira). Salários, dividendos e rendimentos de investimentos compõem o fluxo, por exemplo. É a movimentação (o vídeo) que justifica as alterações no seu estoque.
Sendo assim, estoque e fluxo representam, respectivamente, o patrimônio que possuímos e a movimentação financeira que ocorreu ao longo do ano.
Ilustrando com exemplos
À medida que aprofundamos nosso entendimento sobre a declaração do imposto de renda, é crucial aprofundar como os conceitos de estoque e fluxo se aplicam na vida real.
Vamos aos exemplos de Pedro e Ana, que nos ajudarão a visualizar como o estoque e o fluxo se manifestam na prática.
- Pedro é um designer gráfico freelancer que trabalhou em diversos projetos ao longo do ano. Seu estoque no início do ano incluía um computador avaliado em R$ 5.000 e uma reserva de emergências em poupança de R$ 10.000. Durante o ano, ele faturou R$ 80.000 com seus projetos. Sempre que recebia seu dinheiro, já investia tudo na poupança. Porém, em julho, para aprimorar seu trabalho, comprou um novo computador por R$ 8.000, sacando do investimento. No final do ano, ainda tinha R$ 40.000 investidos na poupança. O restante foi gasto em despesas do dia a dia, sendo que, desse valor, R$ 6 mil foram pagos no seu plano de saúde.
O fluxo, que deve ser informado na declaração, mostra a entrada de R$ 80.000 de seus trabalhos e os rendimentos da poupança. Esses valores demonstram a origem dos recursos. Em algumas situações, é válido informar o fluxo de saída também, como a despesa do plano de saúde, por exemplo, que serve como despesa dedutível para diminuir o imposto a ser pago por quem declara pelo modelo completo.
E o estoque de Pedro na declaração consistia em um computador de R$ 10.000 (o antigo já não valia mais nada e foi doado para uma instituição de caridade) e a reserva na poupança de R$ 40.000. Esse é o seu patrimônio final, que demonstra o estoque.
- Ana, por sua vez, herdou R$ 200.000 de um tio que a adorava e a colocou no seu testamento. No início do ano, seu estoque era basicamente de um fundo de investimento de renda fixa conservadora no valor de R$ 20.000 que já possuía. Com a herança, decidiu ir morar sozinha e comprou um apartamento por R$ 150.000 e investiu o restante em ações, visando os dividendos e o longo prazo.
Assim, o estoque de Ana no final do ano na declaração mostra o apartamento de R$ 150.000 e os R$ 50.000 aplicados em ações, além de seu investimento no fundo de investimento atualizado. O fluxo a ser declarado reflete o valor da herança recebida, o rendimento que recebeu no fundo de investimento, e os dividendos e juros sobre capital próprio das ações. Como Ana ainda morava com os pais e era sustentada por eles, e se mudou ao final de dezembro, não teve despesas que saíssem do seu bolso nesse período. Então, esses valores de entrada (fluxos) refletem a origem do aumento de seu patrimônio (estoque) no final do ano.
Reflexão sobre estoque e fluxo
Os exemplos de Pedro e Ana ilustram como os eventos do ano afetaram o patrimônio (estoque) e como é importante declarar essas variações adequadamente, considerando também a origem dos recursos (fluxo). Toda variação patrimonial deve ter uma origem de recursos que a explique!
Por isso que não é possível atualizar o valor do imóvel à mercado na declaração, pois não haveria uma origem de recursos para explicar esse aumento patrimonial. Entendeu?
Aprender sobre essas dinâmicas é fundamental para que você possa elaborar sua declaração de imposto de renda de forma precisa, garantindo que todos os aumentos patrimoniais sejam devidamente justificados com a sua devida origem.
Aproveite e veja também esse outro artigo aqui no site em que expliquei, de outra forma, a diferença entre estoque e fluxo, vale a leitura!