Dúvida do Leitor:
Sou estagiário de uma asset e posso guardar todo o meu salário, ou seja, tenho conseguido poupar. É mais interessante deixar esse dinheiro acumular para depois investir ou devo fazer aplicações diversas em fundos todo mês?
Leticia Camargo, CFP, responde:
A tática de incorporar a disciplina de poupar desde muito cedo – antes mesmo de se formar – e já estar procurando orientações de especialistas para suas finanças é ótima e correta. Pois, com esse novo cenário econômico de juros baixos no Brasil, é preciso poupar mais e focar no longo prazo.
Uma recente pesquisa do HSBC, realizada com 15 mil pessoas, mostrou que os que fizeram um planejamento financeiro têm pelo menos quatro vezes mais poupança em sua aposentadoria do que os que não se preocuparam com isso.
É normal pensar que essa dúvida também é a de muitos outros: vale a pena o esforço de ficar controlando minha conta corrente para aplicar um montante tão pequeno de dinheiro todo mês, mesmo quando olho para meu extrato e percebo que não rendeu quase nada? A resposta é: claro que sim! Pois é de grão em grão que a galinha enche o papo.
Veja a diferença que os anos a mais de aplicação podem fazer: se você investir R$ 1 mil a uma taxa de juros de 7,5% ao ano por dez anos, ao fim deste prazo terá um pouco mais do que R$ 2 mil, ou seja, seu dinheiro terá dobrado de valor. Porém, se deixar este mesmo montante aplicado nesta taxa de juros por 40 anos, terá mais do que R$ 18 mil, portanto, este valor terá se multiplicado por 18. No primeiro período, os juros serão de pouco mais do que R$ 1 mil/dez anos, porém, no último eles chegarão a mais de R$ 4 mil/dez anos.
Portanto, aplique seu salário assim que o receber e faça o dinheiro começar logo a trabalhar para você. Pois, assim, você já passará a usufruir do poder dos juros sobre juros, que funcionam como uma bola de neve: quanto antes começar a rolar, maior ficará.
No início, será mais difícil encontrar bons fundos com taxas de administração baixas para investir pequenas quantias de dinheiro, porém, conforme suas economias forem crescendo, a diversificação ficará mais acessível e sua carteira tenderá a auferir maiores rentabilidades.
Além disso, num primeiro momento, é bom guardar algum dinheiro em uma reserva emergencial, para qualquer eventualidade. Este montante de pelo menos seis vezes seus gastos mensais deverá ser aplicado em produtos conservadores e com boa liquidez, ou seja, que possam ser resgatados rapidamente e sem muitas perdas.
Uma boa estratégia é começar com uma aplicação automática no dia do recebimento do seu salário. Este agendamento mensal poderá ser no Tesouro Direto ou em poupança.
Como você ainda é jovem e tem um horizonte de investimento de longo prazo, terá bastante tempo para recuperar uma eventual perda. Assim, terá a possibilidade de compor uma carteira diversificada, de forma a obter maiores rentabilidades minimizando os riscos.
Quando já tiver acumulado um montante razoável, além de sua reserva para emergências, inicie a diversificação do portfólio de acordo com o seu perfil de risco e horizonte de investimento.
Procure investir em diversas classes de ativos, como DI, renda fixa, inflação, ações e imobiliários. Com as taxas de juros nos patamares atuais, o risco é não correr riscos e acabar perdendo da inflação.
Publicado na Coluna Consultório Financeiro do Valor Econômico em 29/04/2013: