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Americanas e os meus investimentos

Lojas Americanas

Uma pergunta que não quer calar é: com o caso do rombo das Americanas, que não estava no radar do mercado, como ficam os meus investimentos?

Entendo que, de forma mais clara, é esperado que as ações da empresa caiam, já que foi descoberto um rombo na sua contabilidade de algo em torno de 20 bilhões de reais. Isso abala a credibilidade e as perspectivas da empresa para o futuro e, como consequência, suas ações caem.

Talvez, o que não seja tão óbvio é que suas debêntures, que são títulos de renda fixa, também tiveram queda nos preços. Mas, qual é a razão disso?

 

Americanas: quedas além das ações

O que ocorre é que o risco da empresa mudou e, consequentemente, para emprestar dinheiro para ela, os investidores vão querer taxas de juros mais altas do que antes. Quando isso acontece, dificilmente um investidor conseguirá vender as suas debêntures, que antes pagavam juros menores, pelo preço que considerava justo até então. Agora, só comprarão esse título com muito desconto. Então, o seu preço cai!

Por causa da marcação a mercado, assunto que falamos esses dias aqui no site (leia aqui o texto completo), tanto para os fundos de investimento que possuem essas debêntures, quanto para o investidor que possui o papel diretamente, o seu valor atualizado ficou menor, gerando prejuízos.

Graças a isso, tanto alguns fundos de renda variável que possuíam ações das Americanas, como também fundos de renda fixa que possuíam debêntures dessa empresa, tiveram cotas negativas depois que a possível fraude foi informada ao mercado.

Portanto, se você estava investindo em fundos com algum risco e que possuíam ações ou debêntures das Americanas, você deve ter tido algum prejuízo nesses últimos dias.

 

Americanas: e os fundos DI?

Mas, Leticia, o fundo que eu investia era DI com liquidez no mesmo dia, como posso ter tido prejuízo?

A questão é que os fundos podem ter até 50% em papéis privados sem precisar colocar crédito privado no nome. E foi isso que aconteceu com o Nu Reserva Imediata, por exemplo.

Esse era um fundo que estava rendendo 109% do CDI antes desse evento acontecer e o resgate entrava na conta no mesmo dia. Porém, se o fundo estava rendendo mais do que o CDI, era porque tinha algum risco. E, se tinha risco, poderia ter rendimento negativo e não deveria ser utilizado para reserva de emergências.

Quando estamos pensando em investir para a reserva de emergências, devemos priorizar aplicações com baixíssimo risco e ótima liquidez. Nesse caso a rentabilidade fica em segundo plano, já que é menos importante do que os outros dois atributos.

Então, se o seu fundo estava rendendo mais do que o CDI, é porque tinha risco. Ele não era o mais adequado para a sua reserva de emergências, pois nunca sabemos quando um imprevisto ocorrerá e você pode precisar dos recursos bem num momento em que a cota está negativa, como ocorreu nesses dias.

Foi isso que falei em minha entrevista ao Trademap: “Na reserva de emergência, liquidez e baixo risco devem ser priorizados, uma vez que o dinheiro é para lidar com imprevistos. Se um fundo está pagando 109% do CDI, não tem mágica, é porque tinha ativos mais arriscados”. Leia a matéria completa aqui.

 

Quais são os investimentos indicados para a reserva de emergência?

Para essa reserva, os investimentos mais indicados são o Tesouro Selic, CDBs 100% CDI de grandes bancos com liquidez diária e os fundos DI bem conservadores, principalmente aqueles Simples, com taxa de administração zerada.

Lembrando que, se você tem um horizonte de investimento de médio a longo prazo e tem apetite a algum risco, aí sim você pode aplicar em investimentos mais arriscados. Não existe mágica: para ter rentabilidade maior do que o CDI, só aceitando algum risco. E vamos combinar que risco não é para o curto prazo, e sim, para prazos mais longos.

 

Queda das Americanas e diversificação

Outra questão muito importante nesse caso é a diversificação. Para carteiras diversificadas, mesmo aquelas que tinham ações e títulos da Americanas, o prejuízo não foi tão grande assim.

Mesmo com uma queda de pouco mais do que  75% nas ações e de 50% nos preços dos títulos de renda fixa, o fundo que mais perdeu foi o Moat Ações, e sua rentabilidade não chegou a 7% negativa. Isso ocorreu porque esse fundo estava diversificado e não tinha nem 8% da carteira em ações das Americanas.

O fundo do Nubank chegou a cair 0,75% no dia, pois não tinha nem 1% em títulos de renda fixa da empresa.

Esse mesmo conceito também vale para quem tinha uma carteira com várias ações e/ou vários títulos de crédito privado, além de outros investimentos diretos. No total da carteira, a perda não deve ter sido tão alta.

 

Por fim, vale a pena lembrar que, com essa queda de um pouco mais do que  75%, para o preço das ações chegar ao patamar anterior, ele precisará subir um pouco mais do que 300%. Falei sobre isso também no artigo que escrevi sobre a queda da bolsa no início da pandemia. Nada fácil ou trivial, né?

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