Neste artigo, quero lhe convidar para uma reflexão sobre o que podemos aprender com o recente caso de pedido de recuperação judicial da Oi, que surpreendeu muitos investidores…
Nem tudo é o que parece
Um peru que é alimentado todos os dias por seu dono, o adora. Ele acredita, cada dia mais, que o seu dono será ótimo para sempre, afinal, todos os dias ele recebe comida, água fresca e cuidados. Com tanta mordomia, o peru não quer mais nada nesta vida e se sente super feliz. Porém, na véspera do Natal, um fato inesperado (para o peru, claro) acontece: o peru será o prato principal da Ceia Natalina!
Imagino que esta tenha sido a reação de muitos dos 420 mil cotistas de fundos de investimento que tiveram rentabilidade negativa de um dia para o outro, por conta do pedido de recuperação judicial da Oi. Um misto de perplexidade e surpresa!
Pois é, foi isso mesmo que aconteceu. Os fundos que tinham títulos da Oi em suas carteiras tiveram rentabilidade negativa de um dia para o outro!
O investidor desavisado costuma olhar o histórico de cotas do fundo, especificamente para a sua volatilidade (risco), e acha que o fundo não tem risco algum. Isso ocorre porque o que se constata é que não há muita variação nas cotas e o valor vai subindo diariamente como um reloginho.
De fato, como possuem títulos de empresas, ou seja, crédito privado, esses fundos costumam performar melhor do que os que só têm títulos públicos, já que, por definição, os títulos privados são mais arriscados do que os públicos e, portanto, pagam juros maiores do que os títulos do Governo.
Porém, a má notícia vem justamente do fato de se tratar de crédito privado. Pense comigo: se algumas das empresas para as quais o dinheiro fora emprestado estiver mal, se houver grande risco de calote, o fundo tem que considerar que aquela posição naquele determinado título deverá ser marcada a zero, ou seja, o fundo vai considerar que não receberá de volta o dinheiro que foi emprestado para aquela empresa.
Pode até ser que no futuro, a situação da empresa seja resolvida e ela venha a pagar o que devia ao fundo, mas até que isso aconteça, e se acontecer, o fundo passa a considerar que não receberá este montante.
Mas, para alívio geral, como a maioria dos fundos são bem diversificados, o impacto deste fato acabou não sendo muito relevante para a rentabilidade mensal, mas deve ter servido como um alerta para aqueles cotistas que ainda não sabiam exatamente o que era o risco de crédito. Se você quiser entender um pouco mais sobre o risco de crédito, clique aqui para ler um artigo em que expliquei o assunto.
Diante de uma situação como essa, imagine a sensação de perplexidade que se passa na cabeça de um cotista que tinha investido um alto montante em um fundo com essas características…
Mantenha as informações atualizadas
Os títulos da Oi, quando oferecidos publicamente em 2011 e 2013 ao mercado, receberam excelente classificação, com rating AAA, a mais alta das notas de crédito.
De lá para cá, houve uma deterioração do crédito da empresa, que perdeu o grau de investimento em 2014. Recentemente, a empresa pediu recuperação judicial, pois tem dificuldades para honrar seus compromissos.
Em poucos anos, uma empresa que tinha bom risco de crédito, deixou de tê-lo e, consequentemente, os títulos que emitiu deixaram de ser um excelente ativo para se transformarem em um ativo de baixo ou nenhum valor para o mercado.
Cuidados ao emprestar ou pegar dinheiro emprestado
E então? O que podemos aprender com tudo isso?
Primeiramente, que sempre é importante procurar informações sobre o risco de crédito da pessoa ou instituição para quem você vai emprestar o seu dinheiro.
Em segundo lugar, lembre-se que quando você investe em um fundo de crédito privado, você está emprestando dinheiro para empresas ou instituições financeiras privadas, então o seu dinheiro estará exposto ao risco de crédito delas. Se elas não estiverem com suas finanças em ordem, o seu dinheiro estará em risco.
Por fim, o caso da recuperação judicial da Oi também nos ensina algo essencial sobre empréstimos: será que você terá condições de honrar um empréstimo assumido? Para responder a esta pergunta, considere esta nova despesa na sua planilha de fluxo de caixa e organize-se. Lembre-se que o seu nome é o bem mais valioso que você possui!
Bônus: Uma StartUp que dá crédito à população desbancarizada, baseando suas análises nos dados colhidos dos smartphones destas pessoas
Como “bônus”, resolvi compartilhar este vídeo de uma empreendedora que está fazendo a diferença na vida de muitos que não têm acesso aos bancos e, portanto, também não têm acesso ao crédito. Ela criou uma StartUp de crédito que baseia sua análise nos dados pessoais que pode acessar dos smartphones dessas pessoas.
A StartUp identificou que as pessoas normalmente confiam em quem elas conhecem de uma forma mais pessoal e que, portanto, umas dariam crédito às outras. Então, analisando o perfil das informações que ficam guardadas em seus celulares, a empresa poderia inferir o risco de crédito dessas pessoas.
Eles perceberam que quem fala regularmente com seus parentes tem uma possibilidade 4% maior de pagar seus empréstimos e que quem tem contato com muitas pessoas ao longo do dia também costuma ser bom pagador.
E, analisando todas estas informações, poderiam classificar os usuários de smatphones como bons pagadores ou não. Dando um perfil de crédito e um possível empréstimo àqueles que não têm um relacionamento com os bancos.