Como a taxa básica de juros da economia (taxa SELIC) caiu muito nos últimos anos, os títulos que possuem uma parte prefixada em sua composição passaram a apresentar uma rentabilidade muito interessante, e foi isso o que aconteceu recentemente com uma grande parte das debêntures.
Esse cenário provocou a valorização desses títulos no mercado, o que fez com que muita gente decidisse vendê-los, com a finalidade de realizar ganhos relativos à essa valorização.
Paralelamente, mais empresas decidiram emitir debêntures, já que o cenário de juros baixos está muito interessante para captar recursos de terceiros aqui no Brasil, sem necessidade de fazê-lo lá fora.
Só que isso tudo teve um efeito colateral: o aumento significativo da oferta.
Como todos sabemos, se a oferta aumenta mais do que a demanda em um mercado livre, a consequência é a perda de valor do ativo até que oferta e demanda voltem ao equilíbrio.
Isso explica a recente rentabilidade negativa apresentada por alguns fundos de crédito com foco em debêntures (especialmente em novembro).
Como podemos observar, a rentabilidade negativa se deu basicamente por conta desse movimento de ajuste do mercado, e não por conta do aumento do risco de crédito das empresas emissoras das debêntures, o que certamente teria sido muito grave e preocupante.
A prova disso tudo é que logo no mês seguinte, em dezembro, grande parte desses fundos já voltou a ter rentabilidade positiva.
Agora veja como são as coisas…
A oscilação das debêntures assustou muita gente
Esse movimento de rentabilidade negativa em novembro assustou alguns investidores menos experientes, provocando a sua saída dos fundos de debêntures incentivadas. Sim! Muita gente decidiu resgatar suas cotas com medo do que estava acontecendo.
Provavelmente, esses investidores não analisaram bem o risco que estavam tomando. Eles investiram em algo que não conheciam bem, tomaram mais risco do que podiam suportar e não entenderam o que estava por trás do movimento de rentabilidade negativa pontual que estava ocorrendo. Diante disso, terminaram optando por resgatar dos fundos, ainda que estivessem realizando prejuízo.
E foi exatamente isso que expliquei em uma matéria publicada recentemente pela InfoMoney:
Muitos fundos de crédito privado estavam subindo tranquilamente acima do CDI, e as pessoas acharam que renda fixa era tudo igual, que era conservador, só que ganhando mais. Mas não tinham percebido o risco por trás disso, tanto de crédito quanto de mercado. Quem tomou susto provavelmente arriscou mais do que devia. Talvez seja um momento para reajuste da carteira ao risco que se aguenta. Faz sentido ter risco de crédito, mas talvez as pessoas tenham exagerado no tamanho.
Pode ser que eles tenham, por exemplo, investido suas reservas de emergência nesses fundos de debêntures inventivadas, o que não é recomendável dado o risco e a volatilidade inerente a eles. Para a reserva de emergências, recomenda-se um investimento de renda fixa, com alta liquidez, como títulos pós-fixados do governo (Tesouro Selic) ou fundos DI, uma vez que estes não apresentam essas oscilações que foram vistas nos fundos de debêntures incentivadas.
É sempre bom lembrar ao investidor que ele deve sempre respeitar o seu próprio perfil e conhecer bem a sua tolerância ao risco antes de investir. Além disso, deve-se ter em mente o objetivo desejado para aquele capital. Se é reserva de emergências, por exemplo, o objetivo é ter um colchão para lidar com imprevistos. Esse colchão não pode ser aplicado em um investimento que tenha riscos a ponto de fazê-lo perder valor, justamente quando se pode precisar da grana.
Debêntures: e agora? O que esperar?
Embora saibamos que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura, é verdade que muitos desses fundos de crédito com maior foco em debêntures tiveram rentabilidade ótima num passado recente, sobretudo devido à queda da taxa básica de juros da economia.
Ocorre que esta mesma taxa (SELIC) agora está na sua mínima histórica, o que significa que agora há muito menos espaço para movimentos de valorização como tivemos de 2016 até 2019.
No entanto, tais fundos continuam interessantes para efeitos de diversificação de investimentos.
Com o cenário atual de juros baixos, quem deseja ter maiores retornos acaba tendo que tomar um pouco mais de risco. E, no caso das debêntures, como os emissores são privados (ou seja, não são públicos), há um pouco mais de risco, o que significa que também se espera uma rentabilidade maior do que aquela que encontramos, por exemplo, nos títulos negociados pelo governo no Tesouro Direto.
Debêntures: riscos
Falando de risco, é bom frisar que no caso das debêntures, o principal deles é o risco de crédito. Em outras palavras, trata-se do risco de a empresa simplesmente não pagar o compromisso assumido.
É justamente por conta da existência do risco de crédito que o investidor deve tomar muito cuidado ao investir diretamente em debêntures. Ele precisa analisar e conhecer bem a empresa emissora. Não tomar essa medida é sinônimo de emprestar o seu dinheiro a um desconhecido, o que não é nada prudente.
Por conta dos riscos e da necessidade de conhecer bem o mercado e as empresas emissoras, eu costumo recomendar ao investidor que não tem muito tempo para se informar e acompanhar o mercado, que opte por investir em fundos. Nunca é demais lembrar que estes fundos são administrados por especialistas que acompanham o mercado e as empresas diariamente. Esta é uma vantagem que dificilmente um investidor pessoa física consegue ter.
Além disso, investir em um fundo de crédito com foco em debêntures ainda traz consigo a vantagem de uma diversificação maior, uma vez que estes mesmos fundos investem em títulos de várias empresas. Isso diminui sensivelmente o risco e ajuda a aumentar a rentabilidade. Se forem fundos de debêntures incentivadas, então, ainda há a isenção do IR, o que deixa esse investimento ainda mais atrativo.
E então? Está preparado para investir em debêntures? Conseguiu compreender um pouco mais a respeito desses títulos? Espero ter contribuído!