Você já comprou um ingresso para um show e, no dia do evento, se viu em uma situação adversa, como uma chuva forte ou uma gripe inesperada? Você até pensou em ficar em casa, mas o pensamento de não desperdiçar o dinheiro do ingresso o fez reconsiderar. Esse é um exemplo clássico de custo afundado.
Mas Leticia… O que é isso? Para que serve? Como isso pode ajudar nas nossas decisões financeiras? Vamos lá…
O que é custo afundado?
O custo afundado, sunk cost em inglês, refere-se a um gasto de dinheiro, esforço ou tempo que já foi realizado e não pode ser recuperado. Independentemente das decisões futuras, esse custo não pode ser alterado.
Mas existe uma armadilha aqui… Repare bem: os custos afundados são uma das principais razões pelas quais muitas pessoas tomam decisões financeiras equivocadas. Veja só…
O dilema do ingresso para o show
Vamos voltar ao exemplo do ingresso para o show. No dia do show, chove muito, você está doente e realmente preferiria ficar em casa. Você já pagou pelo ingresso, tentou vendê-lo e não conseguiu, então esse dinheiro não pode ser recuperado. Mesmo assim, você se sente pressionado a ir porque já pagou pelo ingresso.
No entanto, essa decisão pode acabar custando ainda mais…
Ao decidir ir ao show, além do custo do ingresso, você também gastará com transporte, comida e bebida e talvez com uma capa de chuva. E ainda há o custo de uma noite potencialmente ruim, com desconforto e piora da sua saúde.
Analisando friamente, é melhor ficar em casa, economizando essas despesas adicionais, evitando uma experiência desagradável e uma possível piora da gripe. Mas, sob o argumento de “salvar” o dinheiro gasto, você termina gastando mais e arriscando ainda mais a sua saúde.
Aplicando o conceito em outras situações
O mesmo princípio se aplica a outras situações, como investimentos em negócios que não estão indo bem…
Suponha que você já tenha investido uma quantia considerável em um empreendimento, mas os resultados não são promissores. Você vem amargando prejuízos consecutivos já há bastante tempo. Continuar a investir nesse negócio apenas porque já gastou muito dinheiro nele pode ser uma estratégia ruim.
O mesmo pode valer para o investimento em uma ação na bolsa que vem caindo muito, mas como você já investiu nela, você insiste comprando mais e mais ações, por um preço cada vez menor. Em algumas situações, o melhor a se fazer é aceitar o prejuízo, ou seja, o custo afundado e partir para outra oportunidade que tenha mais chances de bons retornos, do que continuar investindo no erro.
Mais um exemplo: sabe quando você começa a assistir a um filme e percebe que não está bom, mas continua insistindo porque já assistiu mais da metade e gastou seu tempo com ele? No final, você fica mais tempo assistindo um filme ruim e poderia ter se dedicado a algo que fosse mais prazeroso.
O viés do custo afundado é ainda mais evidente em pessoas com maior aversão à perda. Essas pessoas tendem a temer mais a perda do que valorizar um ganho. Isso pode levá-las a tomar decisões irracionais, pois continuarão a investir em algo que não trará bons resultados.
Perguntas a se fazer
- O dinheiro já gasto pode ser recuperado? Se a resposta for não, ele se encaixa como um custo afundado.
- Quais são os custos adicionais se eu continuar com essa decisão? Considere todos os gastos adicionais que serão necessários.
- Qual será a experiência ou o resultado final se eu insistir? Pese o potencial de resultados negativos e positivos.
- Se eu tivesse que investir nesse negócio iniciando hoje, eu o faria? Se você não começaria a investir agora nesse negócio, então não deveria investir mais nele. Esqueça o custo afundado!
Tomando decisões financeiras mais eficientes
Para evitar cair na armadilha dos custos afundados, é essencial desconsiderar o que já foi gasto no passado e considerar apenas as possibilidades de gastos e de retornos no futuro.
Os custos afundados são parte da vida financeira e entender como eles influenciam nossas decisões pode ajudar a evitar desperdícios adicionais e experiências negativas. Seja em um show ou em um negócio, avaliar os gastos futuros e não insistir em decisões baseadas em dinheiro já gasto é a chave para uma gestão financeira mais eficiente.