Pagamento à vista ou parcelado, qual é melhor? Esta é uma pergunta muito comum quando estamos prestes a comprar algo de muito valor… Sempre surge aquela dúvida entre pagar na hora, deixando tudo quitado, ou manter o dinheiro no bolso e pagar em prestações mensais.
É claro que em algumas situações, quando é uma necessidade e não um simples desejo, e não temos dinheiro suficiente, pagar parcelado acaba sendo a única alternativa, mas… E quando temos o dinheiro? Será que pagar parcelado continua valendo a pena?
Infelizmente, muitas pessoas não se fazem este questionamento e acabam pagando juros e taxas exorbitantes. Foi exatamente isso que uma pesquisa do SPC revelou ao descobrir que “34,1% dos entrevistados afirmam que não sabem a diferença entre os valores dos produtos parcelados e à vista. Esse desconhecimento prejudica uma tomada de decisão do consumidor, já que muitas vezes ele acaba pagando juros, o que encarece o produto ou serviço de maneira desnecessária.”
Diante desta constatação, vamos analisar isso em maiores detalhes a seguir…
Pagamento à vista ou parcelado: o que é melhor?
Para início de análise, a primeira coisa que devemos fazer é comparar os juros do parcelamento com o percentual de rentabilidade que estamos recebendo em nossos investimentos, no caso de já termos o dinheiro suficiente para realizar o pagamento à vista.
Mas como fazer esta comparação? Esta é uma tarefa simples (ok, nem tanto…) e eu vou lhe apresentar um atalho… O site do Banco Central tem uma ferramenta que pode ajudar muito: a Calculadora do Cidadão. Por meio dela, podemos fazer todos os cálculos necessários. Clique aqui para acessá-la.
Já na página da calculadora, na opção de “Financiamento com Prestações Fixas” no menu superior, preencha o número de meses, o valor da prestação e o valor financiado. É importante lembrar que, se você tiver um desconto para pagamento à vista, deve-se colocar o valor já descontado no item do “Valor Financiado”. Deixe o item da taxa de juros em branco, já que é justamente isso que pretendemos descobrir. Por fim, clique em calcular.
Para efeitos de análise, vamos imaginar que você esteja comprando um bem por R$ 5.000,00. Vamos demonstrar aqui como seriam os cálculos em quatro exemplos com condições de pagamento distintas.
Neste primeiro exemplo, se você optar por pagar à vista, terá um desconto de 10% na loja. Se, por outro lado, optar pelo parcelamento, terá que arcar com 10 parcelas de R$ 586,15, pagos por meio da opção de crediário que a própria loja oferece, sendo a primeira parcela em 30 dias.
Preenchendo a Calculadora do Cidadão, teríamos:
- Nº. de meses: 10
- Valor da prestação: R$ 586,15
- Valor financiado: R$ 4.500,00, já que tem 10% de desconto à vista
Ao clicar no botão calcular, o resultado será de 5,12%. Repare que esta é uma taxa elevada e dificilmente alguém teria um investimento capaz de render juros neste patamar, ao mês. Apenas para efeitos de comparação, a poupança está rendendo cerca de 0,66% ao mês. A rentabilidade mensal de um produto de renda fixa atrelado ao DI está em torno de 1% ao mês e ainda poderá haver cobrança de Imposto de Renda, dependendo do investimento.
Apenas para registrar, vale a pena citar aqui um trecho de outra pesquisa sobre o uso de crediário de loja e o comportamento de muitos consumidores: “o descontrole financeiro de alguns brasileiros com o uso do cartão de loja é confirmado quando se observa que 25,7% dos que o utilizaram já ficaram com o nome sujo em algum momento pelo não pagamento das faturas, sendo que 6,4% ainda estão negativados.”
Voltando ao exemplo, se o responsável pelo pagamento não tiver os R$ 4.500,00 em caixa e tiver a opção de pegar esse dinheiro emprestado no banco, ele deverá comparar os 5,12% do parcelamento da compra na loja com a taxa de juros CET (Custo Efetivo Total) do empréstimo do banco e, em seguida, escolher a menor taxa dentre as duas. No cheque especial, por exemplo, tenho visto juros CET de até 18% ao mês. Neste caso, seria bem melhor financiar a compra em 10 vezes diretamente na loja, pelo crediário que ela mesma oferece.
Como segundo exemplo, vamos considerar as seguintes as opções de pagamento para comprar o bem de R$ 5.000,00: 1) o parcelamento com juros, em 10 vezes de R$ 586,15, sendo a primeira parcela em 30 dias, ou 2) o pagamento à vista de R$ 5.000,00, sem desconto. Neste caso, o cálculo resultaria em uma taxa de juros de 2,99%.
Na terceira hipótese, vamos supor que a escolha da forma de pagamento fosse entre: 1) em 10 parcelas sem juros (10 x R$ 500,00) com o pagamento da primeira no ato ou 2) desconto de 10% à vista (R$ 4.500,00). Neste cenário, precisaríamos abater dos R$ 4.500,00, preço do bem já com o desconto de 10%, o valor da parcela primeira parcela que será paga no ato, ou seja, descontarmos dos R$ 4.500,00 os R$ 500,00 da parcela paga na compra (4.500 – 500,00 = 4.000). Este valor de R$ 4.000,00 deverá ser inserido no campo Valor Financiado no site do Banco Central. Como já foi paga esta primeira parcela no ato, na verdade, só serão financiadas mais 9 parcelas de R$ 500,00. Então, para o campo de Nº de Meses, imputaremos 9, já que a primeira parcela já foi paga. O que ocorre é que o que estamos financiando neste quarto exemplo são R$ 4.000,00 em 9 parcelas de R$ 500,00. Então, a taxa de juros aqui será de 2,42%.
Por fim, como quarta alternativa, vamos considerar que existe a opção de pagamento em 10 vezes sem juros, muitas vezes disponível quando se utiliza o cartão de crédito. Porém, caso opte pelo parcelamento, o consumidor perde o direito aos 10% de desconto que teria se tivesse optado pelo pagamento à vista. Neste caso, ao invés de se pagar R$ 4.500,00 à vista (já considerando o desconto de 10%), termina-se pagando R$ 5.000,00, divididos em 10 vezes de R$ 500,00. A simples perda do desconto de 10% equivale a uma taxa de juros mensal de 1,96%, percentual que também é superior ao rendimento de grande parte dos investimentos financeiros disponíveis ao público.
As lógicas que vislumbramos nos exemplos acima valem para qualquer valor de compra, mesmo para as mais baratinhas. Porém, nestes casos fazer toda essa conta pode dar muito trabalho e nem sempre vale a pena o tempo despendido.
O problema do controle nas compras parceladas
Por mais que muita gente ignore isso, é preciso deixar claro que parcelamento É DÍVIDA. Se a pessoa tem prestações a pagar, fruto de parcelamentos, ela está sim, endividada.
Esclarecida esta questão, outra coisa que temos que levar em conta é que, para os menos controlados, pagar parcelado pode enganar, fazendo parecer que a pessoa não gastou muito e que ela pode esbanjar no cartão de crédito. Na verdade, como revelei em outro artigo, quando optamos pelo pagamento pelo cartão de crédito, estamos amenizando a “dor do pagamento” e, com isso, abrimos mais espaço para o consumo inconsciente, que é uma grande armadilha. Clique aqui para saber mais sobre isso.
Para você ter uma ideia da proporção que isso pode assumir, uma pesquisa recente do SPC revelou que “39,1% dos entrevistados fizeram compras de produtos que não precisavam, devido à facilidade do crédito – principalmente roupas (20,7%).”
Se a opção for pelo parcelamento, é preciso ser muito organizado e consciente a respeito das dívidas assumidas. É essencial que a pessoa mantenha controle sobre as prestações que ainda não foram pagas e evite novos parcelamentos até que os parcelamentos anteriores estejam totalmente pagos.
Outro estudo do SPC demonstrou que “quatro em cada dez consumidores possuem cartão de loja. Principal motivação para quem adquiriu esse tipo de crédito é poder fazer mais compras. Três em cada dez usuários não analisaram as tarifas e juros cobrados.”
Por fim, uma dica complementar, mas não menos importante é: procure não parcelar as contas recorrentes como supermercado ou farmácia, por exemplo, já que todo mês tem novas compras e, com isso, novos parcelamentos. O ideal é que somente os bens de maior valor sejam parcelados, coisas que você não compra toda hora (os bens de consumo duráveis), como geladeira, móveis, carro etc.
Com base em tudo o que vimos ao longo desse texto, agora você tem o conhecimento que precisa para tomar boas decisões. Mantenha-se consciente e corra atrás das informações corretas para fazer as melhores escolhas. Faça as contas e não tenha mais dúvidas se o melhor é o pagamento à vista ou parcelado. Boas compras!