Tenho percebido dois movimentos financeiros distintos depois de quase um ano e meio de pandemia, um de endividamento e outro de poupança involuntária.
Vejamos em detalhes:
- Pessoas que perderam seus empregos ou viram sua fonte de renda secar, por conta do isolamento social. Esse grupo, via de regra, está bastante endividado.
- Pessoas que continuaram com seus empregos e conseguiram poupar como nunca.
Foram movimentos distintos para realidades de renda distintas também.
Nesse texto, vamos focar no segundo grupo: aquele que conseguiu manter sua renda e poupar.
Festas, restaurantes, viagens e até roupa nova, não foram a realidade de muita gente nesse período. Com isso, muitos daqueles que mantiveram seus empregos e renda, acabaram poupando de forma involuntária, já que não tinham muito onde gastar.
Mas… Será que essas pessoas vão conseguir manter essa “poupança involuntária” depois que voltarem à rotina de antes da pandemia?
O novo hábito de poupança involuntária, vai vingar?
Muitas dessas pessoas conseguiram poupar pela primeira vez.
Bem… Sinceramente, eu espero que todos que passaram por essa situação tenham percebido a importância de começar a poupar e tenham gostado dessa sensação de ter dinheiro sobrando na conta.
Ainda que muitos tenham feito isso de forma involuntária, o importante é que conseguiram poupar. Finalmente!
Alguns clientes com quem conversei estavam felizes, pois não conseguiam juntar uma grana no passado e agora, com a pandemia, isso foi possível!
Tenho procurado mostrar para eles como é importante passar a ter uma reserva e as vantagens disso. Porém, não tenho tanta certeza de que este hábito se manterá quando a economia voltar a abrir com mais força.
É preciso admitir que poupar não é uma tarefa fácil. Costumamos dar mais valor ao do consumo imediato do que esperar e postergar o prazer.
Isso parece ser ainda pior aqui no Brasil, já que tivemos historicamente uma inflação muito alta. Naquela época, antes do Plano Real, o melhor que se tinha a fazer era receber o salário e gastar o quanto antes, justamente para evitar a corrosão do seu poder de compra, que era comido pela inflação galopante.
Mudar de mindset e passar a poupar não é fácil, sobretudo para quem nunca aprendeu a se planejar devido à escalada dos preços do passado. Inclusive, isso que falei em minha entrevista ao InfoMoney sobre o assunto.
A própria carência de educação financeira também dificulta o planejamento e, consequentemente, atrapalha o desenvolvimento e a continuidade do hábito de poupar para o futuro.
De um jeito ou de outro, espero que uma coisa tenha ficado clara nessa pandemia: aqueles que já estavam se planejando financeiramente e tinham uma reserva para emergências, puderam passar por essa tempestade de uma forma mais leve. De outro lado, aqueles que não se planejaram, tiveram muito mais dificuldades nessa travessia.
Uma coisa parece inegável: devido ao isolamento e à escassez de oferta de alguns produtos e serviços, pudemos perceber que é possível viver com menos. E, quando os negócios voltarem, isso pode acabar sendo uma ajuda e tanto para não voltarmos a comprar por impulso e sem necessidade, e incorporarmos pelo menos uma parte desse novo hábito de poupança!
A poupança involuntária já foi uma realidade para muita gente e serviu para dar uma prova de como é importante poupar! Agora, é só seguir em frente e manter esse recém testado hábito de poupança. Aproveite!