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Qual a lógica da declaração de imposto de renda?

Qual a lógica da declaração de imposto de renda

Sempre que chega a época da declaração do Imposto de Renda, muita gente fica insegura por não saber exatamente como preencher corretamente as informações. Eu sei: não é algo intuitivo. Mas existe uma forma simples de entender a lógica e facilitar o processo… Vou te explicar a seguir.

Qual a lógica da declaração de imposto de renda?

A Receita quer saber se houve um aumento no seu patrimônio e se esse aumento faz sentido diante dos rendimentos que você declarou. Em outras palavras: se o seu patrimônio aumentou, você precisa mostrar de onde vieram esses recursos. Sendo assim, para cada aumento de riqueza, será necessário ter uma fonte de rendimentos que o justifique. Essa é a lógica que orienta toda o racional da declaração.

Uma forma bem didática de visualizar isso tudo é pensar em uma caixa d’água. Sim, uma caixa d’água! Para que o nível de água aumente, é preciso que entre mais água na caixa do que saia. Se o fluxo de entrada for maior que o de saída, a caixa vai enchendo. Mas, se estiver saindo mais água do que entrando, o nível vai baixar.

Com o nosso patrimônio é a mesma coisa: ele só cresce quando recebemos mais do que gastamos. E é isso que a Receita quer verificar na declaração: se o aumento do seu ‘estoque’ de bens está condizente com o ‘fluxo’ de rendimentos que você teve no ano.

Para ajudar a entender melhor, vamos usar esses dois conceitos centrais: estoque e fluxo.

O que é o estoque?

Estoque é o seu patrimônio — ou seja, tudo aquilo que você possui até o último dia do ano-base da declaração. Isso inclui, por exemplo, imóveis (como casas ou apartamentos), veículos, saldo de contas bancárias, investimentos em poupança, ações, fundos de investimento, entre outros. É como se você fizesse um inventário detalhado de tudo o que tem no dia 31 de dezembro para que a Receita Federal possa entender sua evolução patrimonial de um ano para o outro.

Por exemplo: ao declarar um fundo de renda fixa, você vai usar as informações que aparecem no informe de rendimentos da sua corretora ou banco — os saldos no ano anterior e no fim do ano-base da declaração. Esses dados vão para a ficha de Bens e Direitos na declaração efetuada pelo sistema baixado no computador ou em Patrimônio na declaração online, compondo o seu estoque.

E o fluxo?

O fluxo representa tudo que entrou ou saiu da sua vida financeira naquele ano — salários, aluguéis, pensões, aposentadorias, rendimentos de investimentos, despesas médicas, escolares, etc. É o que justifica o aumento (ou não) do seu patrimônio.

Voltando ao fundo de renda fixa e considerando que você não efetuou novos aportes nele: se ele teve rendimento positivo, houve a cobrança de imposto no come-cotas de maio e novembro e esse rendimento líquido do imposto precisa ser declarado na ficha de Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva. Como agora esse fundo vale mais, ele será declarado por um valor maior do que no ano anterior no seu estoque e o fluxo positivo dos rendimentos representa a “origem” do aumento do seu patrimônio.

Como conectar o que você ganhou com o que você tem?

Em outras palavras, a Receita quer entender se a sua “caixa d’água financeira” aumentou e se entrou mais recursos do que saiu — e você precisa mostrar isso com clareza na sua declaração.

Para a Receita Federal, deve haver coerência entre o que você ganhou ao longo do ano e o que você acumulou até o fim dele além do que possuía no ano anterior. Isso significa que, se houve um aumento no seu patrimônio, você precisa mostrar a origem desses recursos.

Muita gente acaba errando ao tratar essas informações de forma isolada, como se cada parte da declaração fosse independente. Mas elas estão conectadas. Um determinado item pode (e muitas vezes deve como veremos nos exemplos abaixo) aparecer em mais de uma parte da declaração. Quando essas peças não se encaixam, existe o risco de cair na malha fina.

Exemplos práticos para entender o racional de declaração

Agora que você entendeu os conceitos, vou te mostrar como isso funciona na prática com dois exemplos reais do dia a dia do meu trabalho como planejadora financeira. Essas situações ajudam a visualizar o que explicamos até aqui e mostram por que é tão importante preencher corretamente todas as partes da declaração.

Joana: Em 2023, Joana tinha declarado na sua ficha de Bens e Direitos que possuía R$ 100 mil investidos entre poupança e fundos de renda fixa DI. Ela não fez nenhum aporte novo nesses investimentos e no final de 2024, esse valor subiu para R$ 103 mil. Esse crescimento patrimonial de R$ 3 mil precisa ser explicado na declaração. Como Joana não trabalhou em 2024, o aumento veio exclusivamente da rentabilidade de seus investimentos. Por isso, ela deve informar esses ganhos em duas fichas diferentes: os rendimentos da poupança em “Rendimentos Isentos” e os rendimentos dos fundos de renda fixa em “Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva”. Isso mostra claramente de onde veio o aumento do seu patrimônio.

Clara: Clara tinha comprado em 2023 um imóvel financiado. Naquele ano, ela declarou R$ 100 mil na ficha de Bens e Direitos, que foi a soma do que pagou na entrada e nas parcelas do financiamento em 2023. Em 2024 ela continuou pagando as parcelas do seu financiamento e no final do ano, o valor declarado do imóvel era de R$ 120 mil. Esse aumento do patrimônio de Clara também precisa ser justificado. Como ela recebeu R$ 150 mil líquidos como salário ao longo de 2024, já com os descontos de IR e INSS, esse valor foi declarado na ficha de Rendimentos Recebidos de PJ. E dessa forma, ela comprovou a origem dos recursos utilizados para pagar as parcelas do financiamento além de seus outros gastos do dia a dia.

Portanto, Clara teve um aumento patrimonial de R$ 20 mil e o restante do seu salário — os R$ 130 mil — foi utilizado para cobrir todas as outras despesas do ano. Isso mostra que a conta fecha e o fluxo está coerente com o aumento do estoque.

Esses dois casos ilustram bem como diferentes origens de recursos precisam ser corretamente associadas ao aumento de patrimônio. Quando essas informações não estão bem documentadas, aumenta significativamente o risco de inconsistências na declaração — e, consequentemente, a chance de cair na malha fina.

E os imóveis na declaração de imposto de renda?

Aqui vai um ponto importante: não devemos atualizar o valor dos imóveis na declaração só porque eles valorizaram. Esse valor só muda na declaração quando há melhorias comprovadas por nota fiscal ou na venda.

No caso de venda, o lucro (diferença entre o valor de venda e o valor declarado de compra) será informado como fluxo na declaração do ano seguinte. O que você fez com esse dinheiro — comprar outro bem, investir — entrará no estoque.

Obs: Houve uma possibilidade para atualizar o valor do imóvel na declaração pagando um imposto diferenciado em 2024. Se quiser saber mais sobre isso clique aqui.

O aumento de estoque tem que ter uma origem

A Receita não quer apenas saber o que você tem, mas também como você chegou lá.

Sempre que houver um aumento no seu patrimônio (estoque), será necessário um rendimento (fluxo) que justifique esse aumento. Lembre-se da caixa d’água: se ela está mais cheia no final do ano, é porque entrou mais água do que saiu.

Portanto, o que não pode acontecer é ter um aumento do estoque maior do que o fluxo de renda recebido naquele determinado ano, já que sempre é necessário explicar a origem daquele aumento patrimonial!

Essa é a lógica básica da declaração de imposto de renda. Parece complicado, mas com esse raciocínio, tudo começa a fazer mais sentido. Ao compreender essa estrutura, você ganha mais segurança para preencher a declaração com coerência e evitar alguns comuns que podem te fazer cair na malha fina.

E, se você ainda quiser saber mais detalhes sobre a declaração de imposto de renda, veja esse Guia Completo do IR 2025 que preparei para você.

Para tornar esse processo ainda mais tranquilo, vale organizar seus documentos ao longo do ano e, se necessário, contar com ajuda especializada. Planejamento faz toda a diferença — inclusive na hora de declarar.

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